segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A ignorância do cidadão “apolítico”: suas escolhas e a negação da própria felicidade.


Arthur Lacerda


Analisando o atual contexto, presente na nossa sociedade, de individualismo, egoísmo, assim, desencadeando na crescente que se encontra a corrupção no âmbito social (dia-a-dia) e político, poderíamos até compreender a colocação de alguns cidadãos que se autointitulam “apolíticos”. Tal colocação seria plausível se esses cidadãos, no conceito do grande filósofo francês Jean Jacques Rousseau, fossem loucos, náufragos, ou um Deus. Todavia, na verdade, não passam de simples pessoas, comuns em nosso cotidiano, ficando, assim, impossibilitadas dessa pífia intitulação.
Refletindo acerca do conceito mencionado nasce um questionamento: é possível algum ser humano intitular-se “apolítico”? Creio eu que não. A política nasce da convivência, do diálogo com o próximo, da articulação entre indivíduos, e, enquanto tivermos um convívio em sociedade, seremos naturalmente um ser político. Como afirmação de tudo isso, cito o renomado filósofo Aristóteles, cujo pensamento remonta à sociedade grega e é utilizados até hoje, onde chamaria o indivíduo de zoo politikon, afirmando que o ”homem é um ser naturalmente político e relacional”. Nesse sentido, realmente o é, se analisarmos detalhadamente os fatos. O convívio em sociedade nos força a exercer a política e, mesmo que inconscientemente, somos seres dotados desse dom, que, inclusive, compõe a nossa natureza e é um instinto natural, como comer, andar e outras coisas que não nos damos conta da origem, mas já nascemos sabendo. Pois bem, a política é uma desses mistérios sem explicação, que já nascemos sabendo exercer, pelo menos de sua forma mais primitiva, no momento em que temos o convívio em sociedade.
Seguindo um conceito de política um pouco mais complexo do que o de convivência natural em sociedade, temos a política como um desdobramento natural da ética na relação entre o governante e os seus governados, sempre visando o bem comum. Ou seja, um governante deve observar o que a ética, a moral e a capacidade volitiva estão preocupadas no âmbito individual, encontrando, assim, um meio para a realização do melhor para o individual no âmbito coletivo. Historicamente falando, observamos que sempre existiu uma relação de governante e governado, desde as mais primitivas sociedades, porém a ética, ficando à mercê da vontade pessoal, nem sempre existiu nem agiu em prol da sociedade governada, às vezes agindo em prol apenas do governante. Analisando os fatos históricos sobre a falta de busca do bem comum na organização social, entende-se o porquê do conceito grego de que o governante deve ser aquele que tem um intelecto superior, uma valoração moral e ética inquestionável e que deveria ser aquele que, por conta desses requisitos, lutaria com todas as forças pelo bem comum da sociedade. Ainda nesse conceito, observamos que a política sempre foi presente na história humana na relação de governante e governado e que a política é sim um desdobramento natural da ética, seja na falta ou na presença dela.
Mesmo na vã ignorância de alguns imorais individualistas, que se julgam “apolíticos” por serem cidadãos “apartidários”, não podemos dizer que não estão envolvidos com a política. Podem, sim, estar desgostosos pelo crescente número de escândalos de corrupções, mas é impossível numa convivência em sociedade se abster da preocupação com o bem comum e não simpatizar, por mínimo que seja, com alguma ideologia, vez que tal preocupação é um elemento constitutivo e necessário para a plenitude do ente humano. Uma pessoa que ignora a vivência em sociedade, que ignora que existe um governante olhando pelo bem dessa organização social, é no mínimo um grande ignorante, pois acha que sua felicidade individual vai poder ser concretizada sem a ajuda de ninguém. Como concretizaremos a nossa felicidade sem a felicidade do próximo? Como seremos felizes vivendo em meio a infelizes? É uma coisa irreal, ilógica, achar que vai se encontrar a felicidade sem estar em um convívio feliz. A pessoa humana não pode ser visto sozinha, uma vez que pressupõe o reconhecimento da pessoa humana e o relacionamento com a pessoa humana.
Pois que se saiba que aquele ser imoral, individualista, que afirma que não gosta de política por ser uma “grande corrupção”, não está apenas negando a mudança no mundo, a felicidade coletiva, mas sim está negando também a sua felicidade, a sua dignidade, o seu fim último. A nossa felicidade e o nosso fim último, passa pela felicidade do próximo, de quem nos rodeia, então não podemos ignorar que a mudança da felicidade de quem nos rodeia está na política e afirmando que não ligamos para a política, estamos afirmando também que não queremos ser felizes por não estarmos preocupados com a felicidade do próximo. Então, seu “apolítico”, por favor, repense os seus conceitos, pense que vive em uma sociedade e não em um estrato individualista e repense o seu papel nessa sociedade. Analise as diretrizes e veja se está realmente buscando a sua felicidade, com mesquinharias e pífias ignorâncias e reflita que o seu fim último passa pela felicidade de quem te rodeia. Somos naturalmente políticos e não podemos ignorar isso por comodismo, nem achar que sozinhos seremos felizes. O sentimento é necessário, o amor ao próximo é necessário e somente assim, chegaremos perto do nosso fim último. Como já dizia um clássico da nossa MPB: “...fundamental mesmo é o amor, é impossível ser feliz sozinho...”.